domingo, 8 de dezembro de 2013

Contra a iniciativa privada dos ricos que é contra a propriedade privada dos pobres

Por Diogo Costa

Por boa parte do tempo em que morei em Washington, da janela do meu apartamento eu via a imagem ao lado.

Uma casa de dois andares pressionada por dois gorilas de prédios. A construtora dos prédios havia tomado todo o quarteirão, menos aquela casa, que ali permanecia excêntrica e anacrônica. Fiquei curioso. Por que só aquela construção não havia sido demolida para dar espaço a novos projetos milionários? O dono de uma loja de conveniência do outro lado da rua me deu a resposta: por causa do direito à propriedade privada. A construtora que comprou todos os imóveis do quarteirão não conseguiu convencer um proprietário específico a se desfazer do seu. Nem os US$2 milhões que ela supostamente ofereceu conseguiram derrubar o direito do dono.

Difícil imaginar o motivo da recusa. Aquele era um trecho antes habitado quase que exclusivamente por pessoas de baixa renda. Não deve ter sido difícil fazer uma proposta que parecesse irrecusável a cada morador. Por que apenas um sujeito resistiu? Queria dizer que era por um passado romântico como o do velhinho do UP. Mas a coisa foi mais ordinária. Uns me disseram que ele pretendia abrir um negócio. Outros, que estava apostando na valorização futura do seu imóvel. 

O bonito da história é que não importa o motivo. Ele não teve que se justificar perante um tribunal ou um conselho comunitário. Não teve que demonstrar como a preservação da sua casa geraria externalidades positivas para o resto da cidade. Bastou dizer "não, obrigado". A propriedade privada lhe serviu de escudo. Nem todo o poder econômico foi capaz de retirar a casa do seu dono. E lá a casa se mantém: feia, desperdiçada, debochada, mas de pé como um dedo do meio aos que quiseram destruí-la.

Iniciativa privada não é a mesma coisa que propriedade privada. A sua propriedade serve de barreira às ambições invasivas da minha iniciativa. O escritor G.K. Chesterton sabia disso. Ele escreveu em The Outline of Sanity de 1927 que "um batedor de carteiras é obviamente um fomentador da iniciativa privada. Mas seria talvez um exagero dizer que um batedor de carteiras é um fomentador da propriedade privada."

De batedores de carteira em 1927 para Eike Batista em 2012. No ano passado, o município de São João da Barra, RJ começou a desapropriação de 401 propriedades (número oficial) numa área de 70 milhões de metros quadrados. Famílias e fazendas deveriam ser removidas para que o terreno fosse ocupado pelos empreendimentos do grupo EBX. Peço que vejam esse vídeo (4:19) mostrando o processo de remoção:


No otimismo de um ano atrás, o sujeito responsável pelo processo de desapropriação afirmava que a instalação da EBX traria benefícios para os agricultores e para seus filhos — o conhecido argumento de que para se fritar uma omelete é preciso antes quebrar alguns ovos. E agora, tantos ovos quebrados e nem vai haver óleo para fritar a omelete.

A apresentadora do telejornal do vídeo ainda apresenta o problema como um dilema entre "produtores rurais que vivem ali" e o "desenvolvimento batendo à porta". Um verbo mais apropriado seria "arrombando". Bater à porta é o costume de uma civilização que entende os limites da propriedade privada, de visitantes que esperam pelo convite do dono da casa para poderem entrar. Onde se bate à porta, empresas têm de negociar com os proprietários, não com o governo do estado. Onde se bate à porta, a polícia age em proteção à nossa propriedade, não a serviço de quem paga mais. Onde se bate à porta, uma única casa pode ser a exceção aos mais magníficos projetos de construção civil. Onde se bate à porta não se batem carteiras.

Políticos prometem cestas e bolsas para os pobres; prometeram "auxílio-produção" aos desapropriados. Mas negam aos pobres exatamente aquilo que pode fazer com que eles não dependam mais de cestas nem de bolsas: o direito de serem donos das suas coisas. Em vez disso, os pobres permanecem dependentes de favores na época de eleições, de decisões políticas tomadas em gabinetes fechados, da boa vontade do judiciário e de deliberações intermináveis travadas em conselhos comunitários.

No vídeo, o Sr. Manoel Toledo faz (2m30) um comovente depoimento de dignidade através da produção: "a única coisa que eu não vou aceitar é sacolão de comida, que eu nunca precisei de sacolão de comida de ninguém".  Dar ao pobre o direito de ser dono de suas coisas é lhe conferir o direito de não ser dominado, chantageado. "Os direitos de propriedade podem munir uma pessoa com segurança pessoal, escreve John Tomasi em Free Market Fairness, "cidadãos com esses direitos sabem que eles podem se agarrar a alguma coisa que não pode ser tirada deles."

Ao investigar as consequências econômicas da falta de direito de propriedade entre as populações mais pobres do continente, Hernando de Soto se projetou como o mais influente economista sul-americano da sua geração. Só nas terras que os latino-americanos possuem de fato, mas não de direito, De Soto descobriu que os pobres da América Latina estavam sentados em cima de quase 10 bilhões de dólares. Sem título de propriedade, não podiam capitalizar em cima desse valor.

Se o governo do estado do Rio realmente quiser avançar o bem-estar das famílias pobres, deve sair da contramão. Em vez de desapropriar terras em favor das empresas mais ricas do país, deveria expandir projetos de concessão de títulos de propriedade a moradores das áreas mais pobres do estado. É o que o Projeto Cantagalo está fazendo em Copacabana. E é o que deveria ser feito por todo o Brasil.

O problema da forma que se conduz o capitalismo, dizia Chesterton, "é que se tem pregado a expansão dos negócios em vez da preservação dos pertences. O melhor que conseguem fazer é disfarçar o batedor de carteiras com as virtudes do pirata."

No Brasil de Eike e na Inglaterra de Chesterton, o mesmo problema esvazia os bolsos e a dignidade dos pobres: o capitalismo é privilégio dos ricos e o socialismo é a promessa dos pobres. Chesterton sabia que a solução não era socialismo para todos. Lembrava que "o comunismo apenas resolve o problema de se bater carteiras proibindo as carteiras." A solução era, e ainda é, capitalismo para os pobres. E capitalismo começa com propriedade privada.


Diogo Costa é presidente do Instituto Ordem Livre e professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec-MG. Trabalhou com pesquisa em políticas públicas para o Cato Institute e para a Atlas Economic Research Foundation em Washington DC. Seus artigos já apareceram em publicações diversas, como O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Diogo é Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis e Mestre em Ciência Política pela Columbia University de Nova York.  Seu blog: http://www.capitalismoparaospobres.com

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Filme: O Grande Ditador

Em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, judeus estavam sendo esmagados pelo preconceito alemão. Chaplin, genialmente, interpreta os dois protagonistas da história: o ditador Adenoid Hynkel (em clara referência a Hitler) e o barbeiro Judeu. Irônico e atrevido, este filme lhe causou sua expulsão dos Estados Unidos, mas criou também uma obra-prima única com uma das melhores mensagens anti-guerra já transmitidas ao homem. 

ASSISTA O FILME AQUI!

http://youtu.be/LfbTYhX6Dqs

ATIVIDADE COMPLEMENTAR 8ª SÉRIE










O Grande Ditador

1)    Pesquise sobre o filme e faça a ficha técnica do mesmo com as seguintes informações:

Título do filme em português – Título original do filme – Diretor – Ano de lançamento – Principais atores – País em que foi feito – Tempo de duração – e uma sinopse com no mínimo 10 linhas.

2)    Analise o trecho final do filme, em que o barbeiro judeu confundido com Hynkel é levado para fazer um discurso sobre a guerra que se iniciava. Reflita e comente sobre a mensagem que Chaplin quis deixar com esta cena.

3)    Analise a cena em que Hynkel brinca com o globo terrestre. Que crítica Charles Chaplin faz nesta cena?

4)    Qual cena do filme mais te impactou? Por quê?


Questões sobre o texto: “ciência”de Hitler: por um bem maior



PERGUNTAS:
1) Na defesa de uma “raça” superior, o arianismo, o nazismo perseguiu e tirou a vida de milhões. Quem era perseguido? Explique o motivo de acordo com a teoria da higiene racial.

2) "O mesmo fanatismo que nos deu Mengele também nos deu a preciosa pesquisa antitabagista.” Pode-se tirar alguma coisa de valioso dos experimentos desumanos e outros, tanto quanto, macabros dos cientistas de Hitler? Cite exemplos desses cientistas, o que fizeram e sua contribuição para a ciência.

3) Entre a medicina, química, matemática, biologia, física, anatomia, entre outros destaque os principais avanços da ciência graças a ciência dos nazistas.

4) Alguns dizem que a utilização e a exposição de tantos atos desumanos cometidos deixa a impressão de que, em pleno século 21, o nazismo arrastou a ciência para o arcabouço da idade das trevas. Mas, se aquilo não era ciência então que essas pesquisas sejam agora, uma vez o mundo tendo superado as atrocidades nazista, utilizadas pela ciência para um bem muito maior, para que milhões de vidas não tenham sido ceifadas em vão. Na sua opinião é válido usar as atrocidades nazistas pelo bem da ciência? Justifique sua resposta.

FONTE:



 



quarta-feira, 1 de maio de 2013

HOMENS E MULHERES DA NOSSA HISTÓRIA: SILVA JARDIM “O HOMEM VULCÂNICO”


Por Douglas Barraqui

Antônio da Silva Jardim era um homem que em suas veias corriam sangue quente como lava. Um Republicano convicto, advogado e jornalista Silva Jardim, era um inimigo ferrenho e destemido da monarquia bem como da escravidão. Envolveu-se completamente na campanha pela república, chegando a vender sua banca de advogado e dissolver sua sociedade. Sua vida, então, se dirigiu para os comícios em prol da República e viagens constantes entre os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

Para ele a verdadeira república só poderia ser efetivada com sangue. Suas idéias eram tão radicais que defendia que não bastava libertar os escravos e derrubar o imperador D. Pedro II, era importante prender e se possível executá-lo.

Após o golpe de 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República, sem derramamento de sangue, o exército, que não se sentia ligado aos civis que tanto haviam lutado por sua proclamação, deixou-o de lado. Silva Jardim ficou decepcionado.

Como também não conseguiu se eleger senador pelo Distrito Federal, decidiu, então, retirar-se da política e viajar para o exterior para descansar, partiu para a Europa. Em julho de 1891, aos 30 anos de idade, visitou Pompéia, na Itália e, curioso por conhecer o vulcão Vesúvio, decidiu escalar o vulcão, ao chegar ao topo, escorregou, caiu em uma fenda na cratera da montanha e morreu. “Extraordinário o destino do grande brasileiro: até para morrer, se converteu em lava.” disse José Carlos do Patrocínio.

Referências:

BUENO, Eduardo. Brasil: uma História - a Incrível Saga de um País. São Paulo: Ática, 2003. 448p.




segunda-feira, 8 de abril de 2013

PROMOÇÃO DO BLOG HiStO é HiStÓrIa


CONCORRA A UM LIVRO!


Concorra ao livro “O Tribunal Penal Internacional e a Grande Estratégia de Política dos Estados Unidos”, da autora Marrielle Maia Alves Ferreira, doutora em Política Internacional pela Universidade de Campinas.

Marriele Maia traça uma instigante análise da política norte-americana sobre o Tribunal Penal Internacional e seus vínculos com as diferentes bases teóricas e precedentes da história daquele país. Ilustra esta análise com as variações ocorridas na posição dos Estados Unidos desde a negociação até o período posterior à entrada em vigor do Estatuto de Roma, abarcando as administrações Clinton e Bush.






REGRAS PARA CONCORRER:

  • CURTA A NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK  (CURTA AQUI)

  • SEJA UM SEGUIDOR DO NOSSO BLOG (SIGA AQUI)
O sorteio acontecerá no dia 01/06/2013. Enviarei o livro, sem nenhum custo, para qualquer lugar do Brasil ou do mundo.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Um olhar sobre a Reforma luterana


Por Douglas Barraqui 
MARTINHO LUTERO

“Ajuda-me, Sant’ Ana! Eu me tornarei um monge”. Essas foram as palavras de Martin Luther ou Luder; mais conhecido como Martinho Lutero, o homem que mudaria os rumos da Igreja.

Martinho Lutero nasceu na Alemanha em 10 de novembro de 1483. Filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann, integrantes de uma pequena burguesia ascendente, era do desejo de sua família que Lutero seguisse a carreira pública, especialmente a de advogado; e assim foi mandado a diversas escolas, em 1501, aos dezessete anos, ingressou na Universidade de Erfurt. Se formou em bacharel e posteriormente mestre. E em 1505, ao voltar de uma visita à casa dos pais, em meio a uma tempestade com muitos raios, teria prometido a Santa Ana que, se o salvasse, se tornaria um monge.  Aderiu à ordem dos agostinianos. Em 1507, foi ordenado sacerdote. No ano seguinte começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg.

Porém, em meio aos seus estudos teológicos, Lutero se deparou com uma crise espiritual envolvendo a questão da soterologia – estudo da salvação do homem. Em 1515 Lutero passaria pela chamada “experiência da Torre”: no alto da torre de Wittenberg, estudando a fim de encontrar respostas para as questões envolvendo a salvação, se deparou com o Salmo 31 – “liberta-me em tua justiça” – e assim Lutero passou a compreender a justiça de Deus, não como algo punitivo, mas sim como sendo a demonstração da misericórdia de Deus frente aos pecadores. Depois disso, conta Lutero em sua autobiografia: “me senti renascido, entrando no paraíso por suas portas abertas”.
Igreja do Castelo em Wittenberg

E em 1517 Lutero escreve as 95 teses, um convite aberto ao debate sobre algumas posturas morais da Igreja – documento que em vias de fato é contestado por alguns historiadores. As 95 teses, diz a tradição, foram afixadas nas portas da Igreja do Castelo de Wittenberg e a escrita desse documento teria sido motivada em meio a uma campanha de cobrança de indulgência, organizada por Johann Tetzel – “assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do Purgatório”: eram as palavras de Tetzel que fez de sua campanha de perdão dos pecados um verdadeiro comércio de compra e venda da salvação.

EXPLICAÇÕES PARA AS REFORMAS

De fato a idéia de Reformar a Igreja não é nova na Idade Moderna. E quando buscamos explicações para as Reformas alguns historiadores acabaram por ter uma visão simplista e limitada concentrando-se apenas na decadência moral da igreja – temas como: luxo exacerbado do alto clero; a não obediência ao celibato clerical; a questão envolvendo a indulgência e a prática da simonia. Outros autores buscaram explicações muito mais amplas para as causas que desencadearam a Reforma: Emile Leonard, vai nos dizer que a razão de ser da Reforma está na própria crise espiritual da Igreja. Ou seja, é na própria religião que se deve buscar a natureza da Reforma.

Historiadores marxistas elencam uma explicação de cunho sócio-econômico. O próprio Marx vai dizer que “a religião é filha da economia”: assim a Reforma era resultado do modelo capitalista daquele momento histórico. As transformações de caráter sócio-econômicas surgidas após o Renascimento comercial – o que podemos destacar como a ascensão da classe burguesa – teve como resultado a necessidade de um novo senso comum religioso que beneficiaria a burguesia que aos olhos da igreja era má vista pela prática do lucro e da usura. O que fazem os marxistas, portanto, é relacionar a Reforma com o surgimento da sociedade Burguesa e sua ascensão.

Outros ainda buscam uma visão Holística para as causas da Reforma, como é o caso de Henri Hauser: apontando para as causas da Reforma como um emaranhado de fatores econômicos, sociais e religiosos, indissolúveis: “A reforma do século XVI teve um duplo caráter de revolução social e revolução religiosa. As classes populares não se sublevaram somente contra a corrupção dos dogmas e os abusos do clero. Também o fizeram contra a miséria e a injustiça. Na bíblia não buscaram somente a salvação pela fé, mas também a prova da igualdade original de todos os homens”.

Uma outra interpretação muito singular quanto às causas da Reforma é a de Quentin Skinner. Ele faz uma interpretação de caráter político e será o autor que mais terei atenção neste artigo, não porque sua explicação seja a mais plausível ou a única a via de fatos, mas sim porque sua obra nos ajudará a compreender a importância da doutrina luterana na formação do absolutismo.

Particularmente eu me identifico com a visão de Cornelius Castoriadis que estabelece uma relação entre a religião e a filosofia: a partir da Idade Média a cultura Ocidental fez um resgate da filosofia grega – feita pela igreja em São Tomas de Aquino. A escolástica medieval, portanto, é um “conbinado” de Aristotelismo e cristianismo. Falando a grosso modo, o tomismo tentou compreender Deus, suas práticas, origem e dogmas usando a filosofia. Castoriadis diz que isso vai ser paradoxal e contraditório.
Mapa da Alemanha indicando as cidades pelas quais Lutero passou

A SALVAÇÃO PELA FÉ

Lutero fundamentou sua doutrina na salvação pela fé, rompendo, desse modo, com a pregação tomista de que o homem por intermédio da fé e das boas obras alcançaria a salvação. Esta idéia de Lutero está bem descrita em sua obra “De Servo Arbítrio”: obra em que ele reafirma as idéias de Santo Agostinho.

Tomás de Aquino usou argumentos filosóficos para demonstrar “a verdade” dentro das crenças do cristianismo, o que ficou bem evidente em sua obra “Suma Contra os Gentios”. O tomismo virou a filosofia oficial da Igreja e também foi declarada a única filosofia verdadeira. E Tomás de Aquino seria feito mestre da Escolástica Medieval um conjunto de doutrinas teológicas e filosóficas que combinava aristotelismo com a crença cristã. A soterologia de Aquino defendia a salvação pela fé e pelas boas obras e a soterologia de Lutero à fé: eis o conflito.

Trata-se, portanto, de uma questão de interpretação que muito além de pura e simplesmente romper com o tomismo, trás autoridade para a bíblia e retira a função e a autoridade da Igreja em seu caráter institucional.
"Pela autoridade de todos os santos, e em misericórdia perante ti, eu absolvo-te de todos os pecados e crimes e dispenso-te de quaisquer castigos por 10 dias" - Uma indulgência vendida, com autoridade do papa, por João Tetzel em 1517

AS CONCEPÇÕES DE LUTERO

As concepções de Lutero passaram pelo: I - Conciliarismo – subordinava a autoridade do papa à comunidade dos fieis representada pelo concílio; II - Eclesiologia – trata-se do entendimento de Lutero sobre a natureza da Igreja (Lutero entende a Igreja como uma congregação de fieis e não como uma instituição hierarquizada). III – sacerdócio universal – este ponto envolve a questão do batismo (para Lutero pelo batismo somos todos sacerdotes), Lutero tinha inaugurado o sacerdócio universal.

Ao mesmo tempo a questão “sacerdócio universal” terá enormes implicações quando Lutero assiste a Epistola de São Paulo aos romanos, “todas as autoridades vem de Deus”: Quando todos são pautados como sacerdotes um em especial, o príncipe, terá além da autoridade política a autoridade religiosa. É inaugurado, então, o “direito divino dos monarcas”; o que fortalece enormemente o poder dos príncipes e afirma o poder temporal acima da Igreja. Lutero ainda vai dizer que cabe ao príncipe proteger a Igreja. A reforma Luterana, em via de práticas, permitiu a formação dos príncipes frente à Igreja Católica.

Quentin Skinner destaca que os príncipes passaram a ter uma autoridade política e religiosa: quando um príncipe ordenar ao seu súdito que faça o mal, o súdito deve recusar; o príncipe utilizara de sua autoridade para punir o súdito e, segundo Lutero, o súdito não deve reagir.  Trata-se de um posicionamento de “passividade” frente a autoridade dos príncipes.

Lutero qualifica a Igreja como autoridade interposta; defende o sacerdócio universal, rompendo assim como a separação entre leigos e religiosos – assim se faz valer: “mediante ao batismo somos todos sacerdotes”. Lutero então derruba a divisão entre estado religioso e estado laico.

CONSEQUÊNCIAS DAS PRETENSÕES DE LUTERO PARA A IGREJA

Em linhas gerais as concepções de Lutero tiram da Igreja sua jurisdição e uma série de seus privilégios específicos – Antes a igreja era uma instituição visível, hierarquizada, dotada de poderes que influenciavam a vida dos homens e os Estados.

Lutero condena a pretensão da Igreja em ter um papel e poder temporal. O reino dos homens, segundo Lutero, é ordenado por Deus – trata-se de um domínio distinto já que a espada está nas mãos das autoridades seculares para manter a paz, tendo portanto, o poder coercitivo.

Portanto, o que podemos notar é uma relação de obediência e subserviência em Lutero – aqui retomamos o ponto da questão da “passividade” frente aos príncipes.

O SUCESSO DA DOUTRINA LUTERANA

Skinner atribui o sucesso da doutrina luterana a três razões básicas que, em certo grau, estão relacionadas direta e indiretamente com a própria doutrina luterana: 1º) idéia luterana de insuficiência da razão; 2º) ênfase no caráter absoluto da vontade de Deus e 3º) o pecador deve colocar toda a sua confiança na vontade de Deus.
Igreja do CasteloWittenberg

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reforma luterana foi um marco para a história do cristianismo e, porque não, da humanidade. O principio reformador, para alguns autores, é inato de nos humanos. Sem reduzir a importância de seus atores principais, digo que a reforma de Lutero é filha de seu tempo histórico, um momento em que o mundo cristão ocidental ansiava por uma nova postura moral e religiosa, eis a reforma de Lutero.

REFERÊNCIAS

LÉONARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. Rio de Janeiro / São Paulo: JUERP/ASTE. 1981.

SKINNER, Quentin. A formação do pensamento político moderno. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Peste Negra: Corpos são encontrados na Inglaterra



Funcionários de um projeto ferroviário no centro de Londres encontraram 13 corpos de pessoas que teriam sido vítimas da Peste Negra no século 14.

A descoberta dos esqueletos em uma vala comum foi feita pelo projeto bilionário Crossrail durante a escavação de um túnel sob a Praça Charterhouse.

Segundo informações do site do jornal britânico "Daily Mail", as ossadas estavam a quase 2,5 metros entre as estações de trem Farringdon e Barbican, duas das áreas mais movimentadas da capital inglesa.

E os corpos de homens e mulheres não foram simplesmente jogados nas valas, mas colocados lado a lado em fileiras uniformes, com as mãos cruzadas sobre o tronco. 

O principal especialista que analisa a descoberta, Jay Carver, disse que essa é uma obra muito significativa e que ainda há muitas perguntas a responder. Primeiro, serão feitas análises científicas para identificar a causa da morte dessas pessoas, qual a idade delas na época e quem elas foram. Quando os exames forem concluídos, os esqueletos devem ser enterrados no próprio sítio arqueológico ou em um cemitério. 

De acordo com arqueólogos (vistos nas fotos) que agora trabalham no local, a Peste Negra – doença transmitida pela pulga de ratos – pode ter dizimado até um terço da Europa na Idade Média. A pandemia é considerada até hoje como a mais cruel e destrutiva da história humana.


Fonte: G1

sexta-feira, 8 de março de 2013

Em Christopher Hill: A Revolução Inglesa de 1640


Por Douglas Barraqui

A guerra evoluiu tornando-se mais abrangente e violenta. E em julho de 1644, na batalha de Marston Moor o exército parlamentar tem uma importante vitória sobre o exército do rei. Oliver Cromwell se destaca como líder militar. No segundo semestre desse mesmo ano, porém, o exército do parlamento acumulou derrotas, e o próprio Cromwell culpa as derrotas seguidas ao mau comando das tropas – de fato o comando dos exércitos de ambos os lados era feito por nobres; e que para alguns especialistas o exército de Carlos I tinha um pouco mais de experiência e traquejo militar do que as tropas parlamentares.

Assim uma reforma era indispensável para que o parlamento conseguisse mudar o cenário do conflito. Em novembro o parlamento começa fomentar, uma reformulação dos comandos, oficialatos, sistema de escolhas e captação de recursos.  Em março de 1645 através do “ato de abnegação” surge o “exército de novo tipo”: Para Christopher Hill tratava-se de uma manobra de Cromwell para retirar a nobreza do alto comando do exército e que, embora, ele mesmo fosse um nobre e que os novos comandantes não deveriam ter funções parlamentares, Cromwell manteve seu posto, fato que em grande medida foi pela sua habilidade militar.

Esse novo exército possuía uma moral militar inteiramente nova por possuir soldados de extratos mais baixos, como da gentry e homens de condição média, e pelo fato de que as promoções militares seguiam critérios de meritocracia.

Em 1646 após a derrota na batalha de Naseby, Carlos I se rende aos súditos escoceses que acabam o entregando ao parlamento. Para Christopher Hill, “as lutas do parlamento foram ganhas devido à disciplina, unidade e elevada consciência política das massas organizadas no exército de novo tipo”.

O parlamento passa a negociar com Carlos I – não era, nesse momento, perspectiva do parlamento fazer a cabeça de Carlos rolar. O rei acaba acatando e aceitando o presbiterianismo como religião oficial por três anos e o controle das milícias por dez anos. A partir de então o parlamento passa a desmobilizar o exército, porém não efetua o pagamento do soldo e ameaça o oficialato de prisões por abusos cometidos durante a guerra. Dentro do exército as lideranças de baixa patente vão protestar e enfrentar o parlamento; esses “agitadores”, como foram chamados, ficariam conhecidos como levellers (niveladores), tratava-se de um movimento civil de base popular no seio de exército. Dentre os seus líderes estava Joh Lilburn.

Em meio a esses acontecimentos o parlamento passou por transformações com a saída dos partidários do rei e a formação de dois partidos: os presbiterianos e os independentes.

Os presbiterianos defendiam uma igreja presbiteriana, uma “paz negociável e de uma guerra defensiva”. Os independentes, puritanos, defendiam uma igreja anglicana, porém, sem a influência do papismo e da hierarquização do catolicismo.

Uma assembléia composta majoritariamente de presbiterianos foi criada pelo parlamento para definir a religião inglesa. Foi definido que a Inglaterra teria como religião oficial o presbiterianismo, purificado de seus elementos católicos e semelhante à igreja escocesa.

Henry Ireton, genro de Cromwell  e uma das lideranças dos independentes, elabora um documento destacando itens a serem negociados com Carlos I, dentre esses itens: deveria haver uma  tolerância religiosa e que o governo da Inglaterra deveria ser composto pela Gentry e a nobreza.

O documento chocou o interesse dos niveladores ao passo que estes pretendiam uma ampliação da democracia no direito de votar, a chamada ampliação da “franchise”. Os niveladores então produzem um documento intitulado de “acordo do povo” definindo que todos são livres pelo nascimento e defendendo o direito ao voto.

O cenário político-religioso nesse momento era o seguinte: Carlos I defendia uma igreja episcopal; os presbiterianos clamavam por uma igreja uniforme, nacional aos moldes da igreja escocesa; os independentes, puritanos, defendiam uma igreja descentralizada, anglicana, aos moldes da igreja calvinista sem a influência do papismo e da hierarquização do catolicismo; e ainda existia a tendência de sectários variavam seu posicionamento teológico, eram seitas que haviam proliferado durante a guerra civil.

O outro pólo de poder era o exército, composto de milícias após ser remodelado em 1645. Quando em 1647 houve a tentativa de desmobilizar as tropas o mesmo vai entrar em ebulição e se dividir em dois grupos: os “Grandges” que eram homens de alta patente e os “agitadores”, lideranças de baixa patente composto principalmente da gentry e de homens de condições média, são os niveladores.

No fim das contas os independentes não conseguem um acordo com Carlos I. Final de 1647 Carlos I foge da custódia do exército e em 1648 a Guerra Civil é retomada. As forças de Carlos I não conseguem vencer as tropas parlamentares. Na batalha de Prestor, novamente, brilhou a liderança de Oliver Cromwell. Carlos I novamente é feito prisioneiro. E em novembro de 1648 os independentes, mais radicais que já falavam em República, passam a levantar essa bandeira com mais fervor. Em dezembro de 1648 os presbiterianos são expurgados do parlamento e em janeiro de 1649, após ser julgado e condenado Carlos I é executado por crimes contra o povo.

Sem o rei pela primeira vez em sua história a Inglaterra passa por um interregno republicano, a chamada “Comowellf Republic”. O movimento dos niveladores teve suas principais lideranças cooptadas e acabou sendo desarticulado; os bispos perderam sua influência política e a câmara dos lords foi desarticulada. Tratava-se, portanto, de uma mudança profunda na política inglesa, em certo grau radical.

Havia ainda um problema a ser enfrentado pelo novo regime: os inimigos escoceses e a Rebelião Irlandesa. Agosto de 1649 as tropas de Cromwell desembarcam na Irlanda. Uma forte repressão foi feita sobre os católicos irlandeses, confiscou terras e as entregou aos protestantes – o que vai ocasionar problemas que repercutem nos dias de hoje com a querela entre Irlanda do Norte e Irlanda do Sul. No ano seguinte a Irlanda estava pacificada e dominada pela Inglaterra. Na Escócia não foi diferente, Cromwell enfrenta uma nova rebelião: príncipe Carlos, filho de Carlos I, foi proclamado rei, porem, acabou sendo vencido. 


Do ponto de vista político de 1649 à 1653 o exército passou a ser o centro do poder e o parlamento subordinado ao mesmo. Em 1653 um novo parlamento é eleito, mais radical, acabou dissolvido por Cromwell. No ano de 1658 Cromwell morre, seu filho Richard Cromwell ocupa seu lugar.

REFERÊNCIA

HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. IN: Fundo político da revolução inglesa. Lisboa: Ed. Presença, 1985. p. 49-77