segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Fim da História

( Click na Imagem)
Trata-se de uma obra pintada em óleo em 2006 pelos artistas Dai Dudu, Li Tiezi e Zhang An. A imagem foi digitalizada e está dispónivel com um link sobre a história de cada personagem click aqui para acessar!

Por Douglas Barraqui


As reflexões sobre a “história” ecoaram durante milênios e continuam até hoje a soar como sons enigmáticos: “quem somos? Para onde vamos? Para que viemos e qual será nosso destino? como obter a salvação? Onde encontrar todas as respostas para todas as perguntas?


“Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. [1]


Em tempos remotos o homem buscou as respostas para suas aflições em meio a rituais míticos, solicitou respostas a oráculos, a videntes e a profetas. É o homem, que sofrendo com a própria ausência, tenta criar uma imagem global, reconhecível e aceitável, de si mesmo. O homem tentou isso o tempo todo e continua por tentar.


Para os gregos a história se repete, o futuro teria os mesmos eventos do passado, e os homens teriam sempre as mesmas pulsações e necessidades. Portanto, os gregos tem uma visão cíclica da história, repetitiva: nasce, cresce, dá frutos, envelhece e morre, quanto a seu fruto, este crescerá, dará frutos, envelhecerá e morrerá e assim será com os frutos dos seus frutos.


Os helênicos não se preocupavam como o passado. Acreditavam que o futuro individual já estava traçado podendo até ser antevisto: perguntar o que fazer? e/ou, o que será? Questões que apontam necessariamente para o papel dos oráculos. Entre os teóricos da historiografia é sabido que entre os gregos não há idéia de história universal, não havia ainda sido formulada, sendo esta desenvolvida pelos romanos cristãos.


Na concepção dos romanos o futuro passou a ser o centro da história e o fim da história seria a romanização do mundo. É aqui que surge o conceito de história universal aplacada em amplitude pelo o que seria a dominação romana sobre o mundo pagão, dominação que seria justificada pelo cristianismo que o próprio homem criou.


Os judeus por sua vez desenvolveram a idéia de história como um caminho linear para a salvação humana. Os romanos cristãos encaravam o futuro como a vitória incontestável de Cristo, e consequentimente de Roma, por fim, o fim do calvário do homem. O mundo assim era efêmero, sujeito a mudanças.


A modernidade passa a representar a nova temporalidade histórica, marcada fundamentalmente pela recusa da metafísica. O novo personagem, protagonista, é o homem da cidade e o burguês que estão inseridos em um intenso esforço para a racionalização. A fé não consegue mais aplacar os anseios e dar todas as respostas ao homem.


Segundo Weber somente o ocidente experimentou a racionalização que culminou na fraqueza da influência do religioso sobre o homem. O mundo oriental manteve-se ligado a ética contemplativa e mística em detrimento ao ocidente que mergulhou na razão.


O homem renascentista buscava o êxito econômico com a riqueza, o êxito político com o poder, o êxito social com o estatus, a estética com a vaidade e o intelectual com a razão. O mundo medieval abria espaço para um mundo em que o homem estava no centro das coisas, antropocentrismo. O ascetismo dava lugar ao hedonismo.


Para Kant a razão traria a reunificação da humanidade e substituiria a religião. Para Habermas o futuro era o espaço de realizações da perfeição humana, o individuo seria autônomo, autodeterminado e crítico.


O ambiente na pós-modernidade é caracterizado pelo individualismo, pelas mudanças aceleradas na ciência e tecnologia que caminham de mãos dadas a fim de dar a respostas e acabar com o sofrimento do homem. Tudo é em tempo real e imediato, mundialização. As questões locais tomam relevância e as generalizações tornam-se um perigo eminente a exemplo do etnocentrismo, imperialismo, racismo, xenofobismo, nacionalismo. As resistências passam a ser concebidas como intolerância, fanatismo e irracionalidade. Surgem novos atores Hitler, Saddam, e Bush. O mundo não pode mais ser visto em uma estrutura maniqueísta de preto e branco, heróis e vilões, vitoriosos e derrotados; aparecem outras cores.


Tudo é prazer imediato, não é mais o que você é, e sim o que você tem. Não é mais o que você planta, e sim o que você pode destruir e construir a partir da destruição. E as respostas para as aflições humanas? Talvez esta seja a resposta: a constante busca. Mas o homem é ao mesmo tempo tão perecível, tão destrutível, tão ameaçador que sua busca por respostas talvez o leve a autodestruição. É o fim da história.


  1. Inscrição no oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios (c. 650a.C.-550 a.C.)


Bibliografia:


WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. 15. ed. São Paulo: Cultrix, 2008. 124 p.


IACONO, Alfonso M. Caminhos de saída do estado de menoridade: Platão, Kant e o problema da autonomia. Rio de Janeiro: Istituto Italiano di Cultura: Lacerda, 2001. 87 p.

domingo, 20 de junho de 2010

José Saramago


Por Douglas Barraqui

Escritor, contista, argumentista, jornalista, romancista, poeta e, acima de tudo, um português. Nobel de Literatura em 1998, vencedor do prêmio Camões, foi um homem que traduziu como ninguém a beleza da linguagem humana, pelas palavras em português.


Com 16 romances publicados e com apenas uma adaptação para o cinema, Ensaio Sobre a Cegueira, Saramago deixa um grande legado.


“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”


Há situações na vida em que já tanto nos dá perder por dez como perder por cem, o que queremos é conhecer rapidamente a última soma do desastre, para depois, se tal for possível não voltarmos a pensar mais no assunto.”


“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”


“O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.”


“A virtude, quem o ignorará ainda, sempre encontra escolhos no duríssimo caminho da perfeição, mas o pecado e o vício são tão favorecidos da fortuna que foi ela chegar e abrirem-se-lhe as portas do elevador.”


“Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provérbios, tudo pode aparecer como novidade, à questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.”


Em minhas poucas palavras: Se foi um dos grandes titãs do gênero literário, um mestre que sempre será lembrado


“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.”