sábado, 6 de janeiro de 2018

O UNIVERSO DA CULTURA


Prof. Douglas Barraqui



A)   O CONCEITO DE CULTURA:

  1. Alfred Kroeber (1876-1960):
Ø  Latim – “colere” = cultivar
Ø  Cultura como mecanismo adaptativo, acumulativo, transmissivo de geração a geração, ao longo da história.

  1. Bronislaw Malinowski (1884-1942):
Ø  Cultura como significados e valores.
Ø  Só é possível compreender a cultura quando se é integrante dela.
Ø  Propõe que o pesquisador se insira dentro da cultura.

  1. Roberto DaMatta (1936-)
Ø  Noção prescritiva de cultura: cultura como uma espécie de receituário, um código uma espécie de mapa que, ao ser seguido, nos torna humanos.

  1. Ruth Benedict (1887-1984)
Ø  Noção descritiva: cultura é o que nos descreve como humanos. Não é possível falar em humanidade sem cultura.


B)    DA ANTIGUIDADE A MODERNIDADE:

I.                    Grécia e Roma:
Ø  Cultura como um sistema de valores universais.
Ø  Bárbaro” – conceito utilizado pelos gregos e romanos para quaisquer povos que não fossem originários de sua cultura.
Ø  Visão etnocêntrica.

II.                  Iluminismo:
Ø  Cultura assume um caráter hierarquizante (como se houvesse uma cultura superior a outra).
Ø  Relacionada ao conhecimento científico, à evolução e ao profresso.
Ø  Cultura se refere ao cultivo do espírito humano ao adquirir educação e instrução com pressuposto na razão.
Ø  Estado de cultura se opõe ao estado de natureza.
Ø  “Visão universalista” – todas as culturas se desenvolvem da mesma forma em direção a um mesmo objetivo: a civilização.
Ø  Hierarquiza: concebe o modelo de sociedade europeia do século XVIII (urbana, industrializada, republicana e democrática) como superior.
Ø  Cultura como civilizadora.


III.                Civilização e cultura
Ø  A noção de civilização está atrelada ao progresso.
Kultur – Para os alemães é aquilo que os indivíduos tem de mais autêntico (hábitos, costumes, habilidades, tradições). Aspectos únicos e particulares de uma comunidade.
Civilization – Para os franceses é um padrão universal de comportamento ligado a identidade cultural.
Culture – para Edward Tylor (1832-1917), antropólogo inglês, é toda a gama de conhecimentos, crenças, produções artísticas, leis, moral, ou seja todos os aspectos simbólicos que envolve a vida em sociedade.

C)    O CARÁTER SIMBÓLICO DA CULTURA

Ø  O ser humana se caracteriza pela capacidade de abstração e simbolização.
Ø  Comportamento humano se baseia em símbolos (escrita, gestos, placas de transito, ritos, valores).
Ø  Cultura é a produção, reprodução e manutenção de símbolos ao longo da história.

D)   EVOLUCIONISMO CULTURAL

I.                    Definição:
Conjunto de teorias antropológicas, inspiradas na Teoria Evolucionista de Charles Darwin.
Ø  Sociedade funcionaria como um organismo vivo (visão organicista).
Ø  Uso de leis naturais e conceitos das ciências naturais para explicar a sociedade.

II.                  Autor e obra:
Edward Tyler - Primitive Culture (1871)
Ø  Cultura como um fenômeno natural.
Ø  Os grupos humanos se diferenciam apenas pelo grau de civilização (assim quando comparada a civilização européias, as demais civilizações sempre eram atrasadas / servil de base para a “missão civilizadora” do imperialismo do séc. XIX e XX).
Ø  Uso do método comparativo linear (como se todas as civilizações caminhassem em uma mesma linha evolutiva.

E)     DIFUSIONISMO CULTURAL

I.                    Conceito:
Corrente de pensamento que defende que a cultura é fruto de “irradiação” por meio do contato (comércio, guerras) entre os povos o que leva a imitação, reprodução, reelaboração (sincretismo).

F)     ANTROPOLOGIA ESTRUTURALISTA

I.                    Conceito:
Defende a existência de uma estrutura simbólica, lingüística, e mítica comuns a toda a humanidade.

II.                  Autor e obra:
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) – “Antropologia Estrutural” (1967).
Ø  Defendia a existência de estruturas mentais universais.
Ø  Ex. “Tabu do incesto”: todas as culturas apresentam algum tipo de condenação a prática do incesto (esse elemento em comum expressa uma estrutura mental).
Ø  Todas as culturas operam em estruturas binárias (masculino x feminino, céu x inferno, morte x vida, frio x quente, belo x feio).

G)   O CULTURALISMO

I.                    Conceito:
Teoria que defende que cada cultura segue seu próprio processo evolutivo.
Questionou as bases do evolucionismo cultural e significou uma crítica ao etnocentrismo, ao racismo e as formas de dominação cultural.

II.                  Autor:
Franz Boas (1859-1942)
Ø  Cada cultura passa pelo seu processo evolutivo que está intimamente ligada às condições geográficas, climáticas, psicológicas e históticas.
Ø  Cada cultura deve ser compreendida dentro de sua história particular.

H)   CULTURA TRADICIONAL,  CULTURA ERUDITA E CULTURA DE MASSAS

I.                    Cultura Tradicional
Ø  Também chamada de cultura popular é aquela produzida e reproduzida pela camada dominada.
Ø  Encontra-se no folclore, nas crenças, tradições, habilidades e costumes, bem como valores morais e na linguagem.

II.                  Cultura Erudita
Ø  É aquela produzida pela camada dominante da sociedade.
Ø  Caracterizada pela erudição, letramento, fundamentada na ciência e racionalidade aos moldes do pensamento iluminista.

III.                Cultura de Massas
Ø  Absorvida por maior parte dos indivíduos de uma sociedade.
Ø  Fator mercadológico, seguindo a lógica do capitalismo de mercado e do consumismo.

I)       CAPITAL CULTURAL E CAPITAL SIMBÓLICO

I.                    Conceito:
Elementos da cultura sendo utilizados como instrumentos de poder econômico, social e político.
Ø  Ex. quanto mais cultura eu acumulo, mais culto sou. Quanto mais diplomas acumulo maior meu status.

J)      ANTROPOLOGIA E CULTURA NO BRASIL

I.                    Contexto Histórico:
Déc. De 30 e 40
Ø  Expedições do Marechal Cândido Rondon.
Governo Vargas – pretensão de unificar o território sob o prisma de uma única cultura nacional brasileira (índio como atrasado que precisava ser civilizado).
Ø  Influencia do culturalismo de Franz Boas e do estruturalismo de Claude Lévi-Strauss.

II.                  Principais autores e obras:
1)      Luís Câmara Cascudo (1898-1986) – “Dicionário do Folclore Brasileiro” (1952)
Ø  Se esforçou para registrar as práticas culturais, comidas típicas, o folclore, os mitos e lendas regionais brasileiras.

2)      Eduardo Viveiros de Castro (1951-) – “A inconstância da alma selvagem”
Ø  Estudo detalhado das manifestações culturais dos indígenas atuais.

3)      Gilberto Velho (1945-2012) – “"A Utopia Urbana: um estudo de antropologia social" (1973)
Ø  Estudou a complexa relação entre o individuo, sociedade e modo de vida urbano.
Ø  Analisou fenômenos como violência nos grandes centros urbanos, práticas culturais dos grupos juvenis, o individualismo, o consumismo e as relações familiares.

4)      Luis Eduardo Soares (1954-) – “Elite da Tropa” (2006)
Ø  Interpretou a relação entre a violência, a criminalidade, a mídia e o Estado.
Ø  Nos mostra como que o próprio poder político corrompido produz e sustenta a criminalidade.
Ø  Nos mostra como que a mídia ajuda a propagar a violência por intermédio do sensacionalismo.

5)      Roberto DaMatta (1936-) – “Carnavais, malandros e heróis (1979)
Ø  Estudou o carnaval e seus significados, a figura do malandro, o jeitinho brasileiro e a prática do “você sabe com quem está falando?”.

K)    INTÉRPRETES DO BRASIL

I.                    Principais autores e obras:
1)      Gilberto Freyre (1900-1987) – “Casa grande e Senzala” (1932)
Ø  Estudou a formação histórica e social do Brasil desde o período colonial.
Ø  Sociedade brasileira resultado da mestiçagem.

2)      Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) – “Raízes do Brasil” (1936)
Ø  Conceito do “homem cordial”, como característica marcante da alma brasileira. O homem que valoriza mais a emoção do que a razão. Tese de que o brasileiro seria mais “cordial”, mais afável, amigável, submetido a paixões;, tende valorizar mais as relações familiares e afetivas; mais festi9vo e hospitaleiro; daria mais importância ao domínio privado do que o público.
Ø  No país da malandragem, o jeitinho brasileiro teria como tragédia maior a corrupção.

3)      Darcy Ribeiro (1922-1997) – “O povo brasileiro” (1997)
Ø  Estudou a formação da sociedade brasileira a partir das três matrizes: nativo (índio), negro (africano) e o branco (europeu).
Ø  Demonstra como esse caldeirão cultural foi marcado tanto por relações amistosas quanto por conflitos, violência e relação de dominação.

OBS.: Ambos os autores são duramente criticados pelas explicações reducionistas e generalizantes.

L)     PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL

O Patrimônio Cultural pode ser definido como um bem (ou bens) de natureza material e imaterial considerado importante para a identidade da sociedade brasileira. Segundo artigo 216 da Constituição Federal, configuram patrimônio "as formas de expressão; os modos de criar; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; além de conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico."
Ø  O patrimônio cultural pode ser material ou imaterial:

I.                    PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL
É formado por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.

II.                  PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL
Estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser das pessoas.
Ex.: Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Feira de Caruaru, o Frevo, a capoeira, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas e as matrizes do Samba no Rio de Janeiro.

Obs.:
No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é responsável por promover e coordenar o processo de preservação e valorização do Patrimônio Cultural Brasileiro, em suas dimensões material e imaterial.

REFERÊNCIAS:

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Ed. da Unesp, 1991.

Sociologia hoje: volume único: ensino médio / Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : Ática, 2013.


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