sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

BBB: quem são os nossos heróis?

Por Douglas Barraqui

Um “zoológico humano” é o que é o Big Brother Brasil. Programa de baixarias e vilanias, que alguns gostam de chamar de entretenimento, da TV Globo. Um “zoológico humano” que a todo o momento nos empurras desvalores miolo adentro e alienação.

Seria o BBB o reflexo de uma sociedade narcisista, consumista, individualista e superficial? Ou, ao contrário, o BBB estaria refletindo esses pseudos valores para o público ao deixar de estimular a cultura, a inteligência, a criticidade; e  corrompendo princípios como solidariedade, ética e moral? Neste programa o que vale é ser bonito dentro de um padrão predeterminado de homens e mulheres sarados e saradas, siliconados e siliconadas. Em meio ao um reality show de pornografia e conspirações, em frente às câmeras o que se assiste é o reflexo da ganância pelo prêmio em dinheiro.

George Orwell se levantaria do túmulo se soubesse que seu livro iria dar nome a um reality show. O Big Brother, traduzido como o “grande irmão”, é um personagem fictício do Romance intitulado “1984” de George Orwell. Escrito originalmente em 1948, trata-se de uma sociedade vigiada dia e noite pelo grande irmão, que vê tudo, controla tudo, decide tudo. De fato os regimes fascistas da Alemanha e da Itália serviram de inspiração ao autor.

O Big Brother Brasil é um enlatado holandês criado originalmente por John de Mol, executivo da empresa Endemol. Consiste em pessoas “comuns”, pré selecionadas, que conviveriam juntas dentro de um mesmo espaço, e sendo vigiadas vinte quatro horas por dia por câmeras.

A versão brasileira conta com o apresentador Pedro Bial: Jornalista, escritor, cineasta e poeta. Repórter que cobriu a queda do muro de Berlim, Bial prometeu um “zoológico humano divertido” e chama os participantes do reality show de heróis. Será que Bial, pessoa instruída que é, desconhece o verdadeiro significado da palavra herói? Será que não percebe que o BBB significa a morte da cultura, de valores e princípios como ética, moral, solidariedade...?

O fato é que a TV brasileira, como um todo, não esta cumprindo seu papel, que nas palavras de Arlindo Machado, é o de colaborar na construção da cidadania. [1] Os críticos da Escola de Frankfut viam a TV como uma ferramenta a serviço do poder, vinculadora de interesses ideológicos dos detentores dos meios de produção e que seria um meio de comunicação incapaz de colaborar para a construção da cidadania. [2] E se esses mesmos críticos de Frankfut tivessem assistidos ao BBB veriam o show de horrores segundo o qual os dominantes submeteram os dominados.

BBB é um programa de entretenimento? Se você respondeu sim, reveja seus conceitos. E se você ainda acha que os participantes do BBB são heróis lembre-se dos bombeiros, dos policiais, dos professores, das donas de casa, dos pedreiros, dos garis, das empregadas domésticas que trabalham dia a dia por um mundo melhor recebendo salário indigno. Acordam de madrugada, no cantar do galo, pegam duas a quatro conduções para chegar ao trabalho, e receber um salário mínimo, e alimentar uma família de seis a dez bocas. Isso é Reality Show,  isso sim é ser herói.

Referência:

[1] MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Ed. Senac, 2005.


[2] BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1997

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