domingo, 19 de fevereiro de 2012

Carnaval: a verdade por trás das máscaras e trios


                                                                          
Por Douglas Barraqui

Não sou inimigo do Carnaval, um dos festejos mais populares do Brasil, mas faço uma crítica na forma e de como se comemora. Por de trás das fantasias do carnaval está um trio de absurdos, uma escola de ignorância é uma marcha de corruptos.

O primeiro erro é acreditar que o carnaval é uma festa genuinamente “made in Brasil”. Embora não há como comprovar empiricamente o nascimento do carnaval, sabemos que a 10.000 a.C. homens, mulheres, crianças, se reuniam no verão de corpos pintados, caras mascaradas, pulando e cantando para espantar os demônios da má colheita. Festejos parecidos e peculiares foram comemorados entre egípcios, gregos e romanos. Mas, o carnaval tal como conhecemos tem sua origem na Europa no Período Vitoriano e se espalhou pelo mundo afora metamorfoseando a outras culturas. No Brasil quando aqui chegou por influência dos lusitanos das Ilhas de Madeira, Açoures e Cabo Verdena, na primeira metade do século XVIII, recebeu o nome de entrudo. Consistia de destrambelhadas correrias, mela-mela de farinha, água com limão que evoluiu depois para batalhas de confetes e serpentinas. Os primeiros blocos de carnaval e os famosos corsos só vão surgir no século XIX. E a primeira Escola de Samba somente em 1928, com a Deixa Eu Falar, no Bairro do Estácio.

Enganam-se os pobres coitados que correm atrás de trios e de marchinhas carnavalescas pensando que carnaval é uma festa popular. Hoje carnaval é negócio, e dos mais lucrativos, coisa de gente rica. Pobre não tem acesso aos camarotes VIP (Very Important Person), as festas privadas e luxuosas e aos abadas caríssimos intitulados “passaportes da alegria”.


A maioria dos blocos, trios, palanques e escolas vivem à custa do poder público. Seu, meu e nosso dinheiro. E convenhamos ninguém subirá em um palanque somente para fazer do carnaval uma festa democrática, ou para fazer feliz o público. Esses artistas, mega artistas, não cobram menos do que na casa dos milhares e até mesmo milhões para divertir um público anestesiado e supostamente feliz porque é carnaval. Uma política de circo para uma população paupérrima que não tem se quer um pão na mesa.


Todo carnaval são as mesmas coisas dantescas: a boa música e amordaçada pelas supostas músicas do momento como “o melo da mulher maravilha” e um “ai se eu te pego”. Dezenas de ambulâncias são disponibilizadas para atender bêbados e machões brigões enquanto o povo morre as minguas nos corredores dos hospitais. A polícia é colocada com todo seu efetivo a fim de guardarem a ordem, e no dia a dia o mesmo folião que pula atrás dos blocos vive encarcerado dentro de sua casa por grades e muros com medo da insegurança.


Os falsos gurus da economia dizem até que o carnaval faz girar a economia, gera renda para dona Maria do cachorro quente e até o senhor João catador de latinhas. Se João e Maria fossem depender do carnaval para o sustento de seus filhos morreriam de fome. Carnaval só é lucrativo para grandes cervejarias, hotéis luxuosos, donos de trios elétricos, e músicos famosos. No mais é prejuízo atrás de prejuízo. São gastos para socorrer vítimas de acidentes de trânsitos os mesmos foliões embriagados ao volante. Gastos em limpeza de rua, ao passo que os foliões parecem mais com porcos dançando em um chiqueiro. Fora os gastos com gravidez indesejada, e com tratamentos para novos soro positivo.


E o ano, como dito popular, só começa de fato após o carnaval. Só depois que os trios e os tambores, pandeiros, cuícas se calaram, que o efeito das drogas passarem e que as máscaras caírem é que se vai ter uma noção do prejuízo. Que o país das cores, das luzes, do deslumbre e da dança passou pela avenida e foi embora. E ficou a realidade.



A dura e vergonhosa realidade de um salário mínimo irrisório. A realidade dos autos impostos a serem pagos ao leão, não o leão da Escola Porto da Pedra, mas, o leão da receita. A realidade dos mega salários, dos corruptos, do mensalão. A realidade dos salários indignos dos professores, policiais e bombeiros que tentam salvar o que restou após o carnaval. Entre tantas outras realidades.  Faço minhas as palavras de Danilo Gentili: “é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse país." 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

BBB: Onde estão os nossos heróis?



Por Douglas Barraqui

Esta escrito nos anais da história que Roma, um dos maiores impérios da humanidade, sucumbiu em meio depravações dos valores morais de seu povo dentre eles a banalização do sexo. O “zoológico humano” intitulado de Big Brother Brasil programa de baixarias e vilanias, leia-se aqui entretenimento, da TV Globo, a todo momento nos empurras desvalores miolo adentro, alienação.

Seria o BBB o reflexo de uma sociedade narcisista, consumista, individualista e superficial? Ou, ao contrário, o BBB estaria refletindo esses pseudosvalores para o público ao deixar de estimular a cultura, a inteligência, a criticidade, e  corrompendo princípios como solidariedade, ética e moral? Neste programa o que vale é ser bonito dentro de um padrão predeterminado de homens e mulheres sarados, siliconados. Em meio ao um reality show de pornografia e conspirações em frente às câmeras reflexo da ganância pelo prêmio em dinheiro.

George Orwell se levantaria do túmulo se soubesse que seu livro iria dar nome a um reality show. O Big Brother, traduzido como o “grande irmão”, é um personagem fictício do Romance intitulado 1984 de George Orwell. Escrito originalmente em 1948, trata-se de uma sociedade vigiada dia e noite pelo grande irmão, que vê tudo, controla tudo, decide tudo. Os regimes fascistas da Alemanha e da Itália serviram de inspiração ao autor.

O Big Brother Brasil é um enlatado holandês criado originalmente por John de Mol, executivo da empresa Endemol. Consiste em pessoas comuns, pré selecionadas, que conviveriam juntas dentro de um mesmo espaço, e sendo vigiadas vinte quatro horas por dia.

A versão brasileira conta com o apresentador Pedro Bial: Jornalista, escritor, cineasta e poeta. Repórter que cobriu a queda do muro de Berlim, Bial prometeu um “zoológico humano divertido” e chama os participantes do reality show de heróis. Será que Bial, pessoa instruída que é, desconhece o verdadeiro significado semântico da palavra herói? Será que não percebe que o BBB significa a morte da cultura, de valores e princípios como ética, moral, solidariedade?

O fato é que a TV brasileira como um todo não esta cumprindo seu papel, que nas palavras de Arlindo Machado, é o de colaborar na construção da cidadania. [1] Os críticos da Escola de Frankfut viam a TV como uma ferramenta a serviço do poder, vinculadora de interesses ideológicos dos detentores dos meios de produção e que seria um meio de comunicação incapaz de colaborar para a construção da cidadania. [2] E se esses mesmos críticos de Frankfut tivessem assistidos ao BBB veriam o show de horrores segundo o qual os dominantes submeteram os dominados.

BBB é um programa de entretenimento? Se você respondeu sim, reveja seus conceitos. E se você ainda acha que os participantes do BBB são heróis lembre-se dos bombeiros, dos policiais, dos professores que trabalham dia a dia por um mundo melhor recebendo salário indigno. Ou de pessoas que acordam de madrugada, no cantar do galo, pegam duas a quatro conduções para chegar ao trabalho, receber salário mínimo, e alimentar uma família de seis a dez bocas. Isso é Reality Show,  isso sim é ser herói.

Referência:

[1] MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Ed. Senac, 2005.

[2] BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1997

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Face book, crise econômica e crise política: o olhar da história


Por Douglas Barraqui

Crise econômica da Europa, não se fala mais em outra coisa. Mas, olhe para esse momento histórico com um olho no presente e outro no passado. Você conseguirá, assim como eu, enxergar que o próprio conceito de crise econômica não mais consegue aplacar e nos dar a verdadeira proporção do que de fato está ocorrendo não só na Europa, mas em todo mundo.

O que de fato esta acontecendo é uma verdadeira alteração na relação entre poder e sociedade. O Estado em sua forma mais conhecida, ou como assistimos, está em crise. A crise econômica, que aos olhos nus de diversos economistas parece fácil de resolver, sufoca os Estados para uma crise política há muito conhecida historicamente; retomamos aqui a França pré-revolução.

A juventude, a opinião pública no geral está hoje muito mais informada e concientizada fazendo uma progressiva e constante desconfiança em relação ao poder. O face book e outros redes sociais estão derrubando tiranias no norte da África, movimentando protestos contra corruptos e organizando a massa frente ao caos na Grécia. Olhando com esses olhos as questões econômicas se tornam um plano de fundo para um processo muito mais amplo e complexo no âmbito da política e no conceito de poder estatal.

A crise atual não é a crise de 2008, é muito diferente. Em 2008 eram as instituições econômicas que estavam afundando, agora é muito mais grave são os Estados. Com aquela crise criou-se entre os bancos e grandes sistemas financeiros a crença de que quanto maior a crise econômica, maior seria a necessidade de o Estado intervir injetando mais e mais dinheiro nessas instituições. Contraditoriamente era a dívida dando lucro. Nuances e contradições do capitalismo.

Infelizmente não se aprendeu nada com o passado de meros 3 anos e menos ainda com a história. Continua se achando que o sistema capitalista e o mercado financeiro possuem vida própria, aos moldes do "laissez faire, laissez aller, laissez passer". Todavia esse mundo financeiro capitalista se configura como uma grande aldeia global cada vez mais conectado aos meios de comunicação, mais informados. Pessoas, as dezenas de milhares, com medo de perderem seus empregos, ficarem sem aposentadorias e cheias de remorso contra o Estado, a quem eles confiaram sua vida, e agora se vêem em apuros.

A crise política de fundo econômico, portanto tem um lado humano frágil, falível e corruptível. Talvez estejamos de frente a uma nova, grande e dramática revolução nunca antes vista na história da humanidade. Movida pelas massas e com uma nova arma, a informação.  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Casos e acasos da corrupção em nosso país: “O Brasil não tem povo, tem público"

Por Douglas Barraqui

"Que país é este que junta milhões numa marcha gay, outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas numa marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?" palavras de Juan Aries, correspondente no Brasil do Jornal espanhol El País. Manifestações políticas, passeatas, barricadas, rostos pintados estão resumidos em pilhas e mais pilhas de livros de história em nossas bibliotecas, esquecidos.

A causa gay, ou a marcha evangélica, ou, até mesmo, a maconha, de certo, não são causas menos importantes do que os escândalos de corrupção de nossa pátria. Todavia, é notória, a letargia do povo brasileiro quando o assunto é corrupção.

O conceito de corrupção é assistido pelo povo como “velho jeitinho brasileiro de ser”. O modo como o conceito de corrupção foi construído no Brasil afetou diretamente o comportamento e práticas da população e, digo mais, afetou também sua moral ética.

O fato é que os diversos casos e acasos de malversação e uso indevido de recursos e da máquina pública, redes de clientelismo, desvios de dinheiros, práticas de lobby dentre outras maracutaias políticas, causaram uma sensação crônica de mal-estar coletivo que nos leva a olhar com olhos incrédulos para a política e para os políticos brasileiros.

Os incontáveis escândalos e as bombas estampadas nas manchetes dos jornais criam um estado de clamor geral, um muro de lamentações, e só isso nada mais. Uma espécie de mal-estar coletivo que cria uma visão de senso comum acerca da honestidade e da índole dos brasileiros. Não é por menos que vários indicadores apontam o Brasil como um país onde a desconfiança impera.

É muito fácil falar da corrupção como uma herança histórica, que teria privado o povo de discerni e racionalizar a diferença entre o que é público e o que é privado dentro de uma moral e uma ética. O que nos parece difícil é a mobilização. E mais uma vez sou obrigado a concordo com o axioma do saudosíssimo Lima Barreto: “O Brasil não tem povo, tem público”.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Faraó Akhenaton e a Reforma Política no Brasil

Por Marcos Emílio Ekman Faber

Numa certa manhã nublada do século XIV a.C., são raras as manhãs nubladas no Egito, o faraó Amenófis IV saltou da cama com o coração em disparada. Havia tido um pesadelo terrível que o havia atormentara por toda a madrugada. No sonho, o faraó estava numa grande sala onde vários deuses estavam reunidos. Apesar de Amenófis estar presente, quem liderava a reunião era Seth, o deus com cabeça de chacau. Por ordem de Seth, os deuses cercaram o rei egípcio, todos empunhando adagas. Seth se aproximou e desferiu um golpe contra o faraó que, antes da lâmina o tocar, acordou ensopado de suor.

Angustiado, Amenófis mandou chamar seus conselheiros e magos, queria uma interpretação para o sonho. Porém, nenhuma das interpretações devolveu paz ao coração do faraó. 

Inquieto, Amenófis resolve se retirar. Sobe até seus aposentos onde, do alto da janela, fica a fitar o céu. O raro dia nublado perturbava ainda mais o faraó, “Será este um sinal?”. Foi então que, em meio às nuvens, o sol saiu imponente a brilhar, em questão de segundos as nuvens se desfizeram. A mudança no tempo devolveu paz ao coração do monarca. Amenófis não tinha mais dúvidas, sua vida e seu reinado corriam sérios riscos.

No entendimento do faraó, os deuses conspiravam contra sua vida. Somente Aton, deus representado pelo disco solar, poderia protegê-lo. Para fugir dessa cilada, o faraó teria de afastar os outros deuses do Egito.

Tomada a decisão, Amenósis inicia um novo programa de governo. Era necessária uma reforma político-religiosa no Egito. A primeira medida foi mudar seu próprio nome. Amenófis torna-se Akhenaton “o espírito atuante de Aton”.

A partir daí, Akhenaton começa um processo de reestruturação da religião egípcia. O culto aos deuses é proibido, com exceção ao culto a Aton. Templos são fechados. Sacerdotes, responsáveis pelo culto aos outros deuses, são destituídos.

A reforma religiosa parecia não ter fim quando Akhenaton decide construir uma nova capital para o reino. A nova cidade, mesmo antes de ser concluída, foi batizada de Akhetaton, o “horizonte de Aton”. Mas a construção trouxe consigo sérios problemas ao faraó, pois a construção obrigou o deslocamento de milhares de escravos para as obras da nova capital. Isso gerou o descontentamento dos outros centros políticos egípcios. Como se isso não bastasse, antigos ministros, conselheiros e, principalmente, os sacerdotes destituídos passaram a conspirar contra Akhenaton.

Os conspiradores não aceitavam as reformas promovidas pelo faraó. Muitos haviam perdido seus preciosos cargos, outros tinham sofrido com o fechamento de seus lucrativos templos. Assim, na calada da noite os conspiradores se reuniram tomando uma importante decisão: Akhenaton precisa ser assassinado.

Em uma bela noite do ano 1382 a.C., Akhenaton recebeu a visita de seus antigos conselheiros. No final daquele encontro o faraó estava morto. A forma como Akhenaton foi assassinado permanece um mistério até hoje.

O que não é mistério foi o que aconteceu com o Egito nos meses que se seguiram. A antiga religião politeísta foi restaurada, templos foram reabertos e a memória do falecido faraó apagada. Até a cidade de Akhetaton foi abandonada. Era o fim do único faraó monoteísta que se tem notícia.

Mas a resistência à mudança não foi exclusividade dos egípcios antigos. Há muito tempo que ouço falar em reforma política no Brasil. Alguns defendem o voto distrital, outros o fim da reeleição, também há quem acredite que o voto em lista seria a melhor solução para o processo eleitoral.

Das alternativas que são apontadas para a reforma política, a que acredito ser a mais adequada é a do deputado federal Henrique Fontana, relator da comissão especial da Câmara. Fontana defende o financiamento público de campanha, ou seja, cada candidato deverá buscar exclusivamente em verbas públicas os recursos para sua campanha. Essa Lei barraria a formação de caixa dois, pois tornaria proibido o recolhimento de recursos de campanha junto à iniciativa privada. Com isso, diminuiriam os políticos que fazem lobby para as empresas que os financiam.

Mas na minha opinião a única reforma política que realmente surtiria algum efeito é a que criasse Leis que garantissem a educação política dos eleitores. Enquanto o país não investir na educação política de nossa população, ensinando-a sobre o funcionamento do processo eleitoral, de nada adiantará realizar grandes reformas.

O problema eleitoral do país está no fato das pessoas não conhecerem as regras do sistema. Alegar que uma reforma política irá impedir que Tiriricas sejam eleitos é não desejar mudança alguma. O que precisa ser feito é conscientizar o eleitorado sobre as regras do jogo. Enquanto não criarmos uma consciência político-eleitoral no país, nada mudará.

Mas que o exemplo de Akhenaton seja observado, pois os sacerdotes e ministros que não desejam mudança alguma estão por todos os lados. Afinal, muitos irão perder com uma reforma política no Brasil.