sábado, 27 de junho de 2009

A al-Qaeda e um novo tipo de guerra



By Douguera


A fraqueza do Estado é a principal fonte de nutrientes do Terrorismo. Então até que ponto se justifica a política norte americana contra o terror? A al-Qaeda, que alguns gurus ocidentais gostam de chamar de “grupo terrorista fundamentalista Islâmico”, tem sua semente na guerra fria. Durante a década de 1980 quando a então URSS invadiu o Afeganistão, a resistência afegã foi possível graças ao patrocínio dos EUA, Arábia Saudita e de alguns governos europeus.


E a cria voltou-se contra o criador. O preceito de que grupos terroristas são locais e regionais não pode ser mais aplicado a ela, não segue mais uma jurisdição. Ironicamente e de forma contraditória à sua “cruzada”, ela se globalizou, se espalhou pelo mundo, sendo capaz de funcionar em forma de células do Japão a América latina usando celulares via satélites, computadores portáteis e sites codificados pela rede mundial de computadores, totalmente modernizada. Ela fomenta um novo tipo de guerra, que o autor inglês, John Gray, chama de guerra não convencional – travada não mais entre Estados, mas sim protagonizada por grupos políticos, milícias, grupos étnicos, fundamentalistas dentre outros onde os alvos de ataques são funcionários do governo e civis.


Ela se tornou, em amplo parâmetro, global em seus objetivos: seu objetivo estratégico, limitado e concreto, é o de promover a derrocada da casa de Saud (o regime saudita que tem, em caráter econômico, papel preponderante no mercado financeiro global, principalmente em investimentos e no fornecimento de petróleo ao motor dos EUA). Tendo lógica compreensão da vulnerabilidade da sociedade industrial do ocidente a al-Qaeda sabe que destruindo o regime saudita, expurgará os infiéis do solo sagrado. Assim sendo, a lógica de sua meta exige que seja mundial, se chocando diretamente com o poderio norte americano e o ocidente em potenicial.


A crença de que o Ocidente sofre de uma grande fome espiritual, alimenta o pensamento dos seguidores da al-Qaeda e dentre seus lideres personificados, Usāmah Bin Muhammad bin 'Awæd bin Lādin, vulgo, Osama Bin Laden. Nascido em Riad, na Arábia Saudita, décimo sétimo dos cinquenta e dois filhos de uma família de quatro esposas e numerosas concubinas. O pai, rico empresário da construção civil e muito envolvido com negócios internacionais. A mãe era síria e divorciou-se do marido logo após o nascimento de Bin Laden. Especula-se que Osama se ressentiu da condição inferior imposta pela família à mãe e, em conseqüência, a ele. Dizem também, que criado no luxo, Osama teve uma vida de play boy, gozando da liberdade do Líbano enquanto estudava e comprando “um ostentatório de Mercedes SL 450 amarelo-canário, com interior alaranjado escuro, ar condicionado, controle eletrônico de velocidade e janelas automáticas”.[1]


Até o presente momento não posso, na qualidade de pesquisador e na carência de documentos, avaliar a exatidão dessa história e também não é meu objetivo aqui. O fato é que o homem mais procurado do mundo, apesar de ser identificado à al-Qaeda, não a criou. Todavia foi o arquiteto do “maior atentado terrorista de todos os tempos”:


“08h45min da manha em Nova York, 09h45min da manha em Brasília. Um avião americano de passageiros batia de cheio numas das torres do World Trade Center. Um acidente tão inimaginável que imediatamente chamou a atenção de todo o planeta, mas não era acidente, para a perplexidade do mundo inteiro foram se registrando acontecimentos que nenhum roteirista de Hollywood imaginou e era tudo real. Estava começando o maior atentado terrorista de todos os tempos.”[2](Fátima Bernardes – JN, 11/09/2001)


O 11 de setembro de 2001 prova que a maior potência bélica do mundo é vulnerável a um ataque em proporções avassaladoras. Não foram ataques como os de outrora, foram atos de guerra global, um exemplo atroz de como o fraco objetiva fustigar a venerabilidade do forte e demonstraram que a guerra não convencional, de Gray, atingira o nível global.


Para o Ocidente e quase impossível compreender a solidariedade suicida de um terrorista. E para os EUA e a política de George W. Buch, em sua ação unilateral, restou o aumento desmedido do antiamericanismo. Combater a al-Qaeda não é como combater o IRA (Exército Republicano Irlandês), ambos grupos terroristas que ostentam ideologias calçadas em doutrinas religiosas. Em 28 de julho de 2005 o IRA anunciou o fim da luta armada após o desmantelamento prisão e morte de seus principais lideres, todavia a al-Qaeda é uma rede flexível o suficiente para sobreviver no caso da morte ou da incapacidade de Osama e ainda com uma formidável capacidade de auto-renovação. Para os EUA e outros Estados liberais resta a vigilância onerosa e constante, que no esforço de encontrar terroristas em potencial em seus territórios e também fora deles, submetem a população a uma monitoração constante. “o preço do individualismo está sendo a perda da privacidade.”[3]



Bibliografias

  1. Ruthven, a Furi for god. The Islamist attack on America, Londres e Nova York. Granta, 2002, p. 197.
  2. Jornal Nacional. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=KflUSoIxZc8. Acessado em 27/06/09.
  3. GRAY, John. Al-Qaeda e o que significa ser moderno. Rio de Janeiro: Record, 2004. Pg. 101.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Arte da Guerra


Análise by Douguera

“...aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas...”

Dou início a meu artigo com o trecho épico, cosmológico e centrífugo de um dos melhores livros que tive a oportunidade de ler em minha vida, A Arte da Guerra, de Sun Tsu. Se você pensa ou é daqueles que julgam um livro pelo nome ou pela capa, reveja seus conceitos.


Sun Tsu escreveu este livro excepcional na China, há 2500 anos e, é simplesmente espantoso como, há 25 séculos, ele tenha dito tantas verdades. Tendo acumulado inúmeras vitórias, como comandante do exército real de Wu, foi um brilhante estratego e profundo conhecedor das manobras militares e por intermédio do documento intitulado, A Arte da Guerra, deixou um legado de estratégias de combates e táticas de guerra apreciado até os dias de hoje.


Desde que foi encontrada, “A Arte da Guerra”, recebeu várias interpretações e já foi traduzida para centenas línguas. Traduzida, inicialmente, pelos japoneses, em 760 DC, a primeira tradução em língua ocidental foi realizada pelo padre jesuíta J. J. M. Arniot, em 1772, tendo sida publicada em Paris. Sobre as ordens de Napoleão, em 1782, foi feita uma nova impressão dessa magnífica obra e a partir do século XIX outras partes do mundo beberiam de sua sabedoria. No ano de 1972, uma escavação na China acabou por revelar uma versão, considerada por muitos especialistas como a, mais completa e antiga que a versão original, que possibilitou levantar novas questões e corrigir outras. Atualmente se fosse indicar uma tradução mais bem fidedigna, apontaria para a versão de 1963, em inglês, de Amuel B. Griffith.


A meu ver os princípios destacados por Sun, em “A Arte da Guerra”, não só podem como devem ser aplicadas tanto nas táticas militares quanto em todos os ramos da atividade humana. Tendo em vista que seu legado abraça todos os indivíduos, em amplitude, no confronto com seus oponentes em suas dificuldades diárias na escola, no trabalho, em fim, Sun Tsu, A Arte da Guerra, deveria ser uma leitura de caráter obrigatória. E é com muito prazer que deixo a vocês, meus caros amigos leitores, o que para mim são os melhores momentos de A Arte da Guerra, para que nunca esqueçamos que, “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz”:


“... na dissimulação do combate, um chefe que é capaz deve fingir ser incapaz; se está pronto, deve fingir-se despreparado; se estiver perto do inimigo deve parecer estar longe...”

“...Um exército vitorioso não lutará com o inimigo até que esteja seguro das condições de vitória, enquanto que um exército derrotado inicia a batalha e espera obter a vitória depois...”

“Táticas militares são como água corrente. A água corrente sempre se move de cima para baixo, evita o terreno alto e flui para o terreno baixo. Assim, são as táticas militares, sempre evitam os pontos fortes do inimigo e atacam os seus pontos fracos.”

“Nunca confie na probabilidade do inimigo não estar vindo, mas dependa de sua própria prontidão para reconhecê-lo. Não espere que o inimigo não ataque, mas dependa de estar em uma posição que não possa ser atacada.”

“Um soberano não deve empreender uma guerra num ataque de ira; nem deve enviar suas tropas num momento de indignação. Quando a situação lhe for favorável, entre em ação; quando for desfavorável, não aja. Deve ser entendido que, um homem que está enfurecido voltará a ser feliz, e aquele que está indignado voltará a ser honrado, mas um Estado que pereceu nunca poderá ser reavivado, nem um homem que morreu poderá ser ressuscitado.”

“Apresente uma vantagem aparente ao inimigo e ele virá até sua armadilha. O ameace com algum perigo e você poderá pará-lo.”

“O sucesso das operações militares reside na descoberta das intenções do inimigo e no esforço para identificar seus pontos fracos.”

“O que basta é: ser capaz de avaliar sua própria força, ter uma visão clara da situação do inimigo e obter apoio total de seus homens. Aquele que não faz planos ou estratégicas, e menospreza o inimigo, seguramente será capturado pelo oponente.”

“Ser invencível depende da própria pessoa, derrotar o inimigo depende dos erros do inimigo.”
“Um general que só conhece a capacidade de suas tropas, mas não sabe a invulnerabilidade do inimigo, terá só metade das chances de vitória.”

“Assim você deverá ser
tão rápido quanto o vento forte, ao entrar em ação;
tão estável quanto as florestas silenciosas que o vento não pode tremer, quando se mover lentamente;
tão feroz e violento quanto as chamas furiosas,quando invadir o estado do inimigo;
tão firme quanto as montanhas altas, quando estacionar e
tão inescrutável quanto algo atrás das nuvens e golpear tão repentinamente quanto trovão.”

“Aquele que ocupa o campo de batalha por primeiro, e espera o inimigo, estará descansado; aquele que chega depois e se lança na batalha precipitadamente estará cansado.”

“O máximo da excelência não está em conquistar cem vitórias em cem batalhas. A excelência maior está em obter-se uma vitória e subjugar o inimigo sem, no entanto, lutar.”

"Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo; conheça terreno e as condições da natureza, e você será sempre vitorioso."

"Quando não há nenhuma chance de vitória, assuma uma posição defensiva; quando há uma chance de vitória, lance um ataque.
Se as condições favoráveis são insuficientes, você deverá se defender; se as condições favoráveis são abundantes, você deverá fazer um ataque. "

“Se o inimigo:
for orgulhoso, provoque-o;
for humilde, encoraje sua arrogância;
estiver descansado, desgaste-o;
estiver unido, estimule a cizânia entre suas tropas.”

“Seja sábio para perceber que para obter a vitória, seus planos devem modificar-se de acordo com as situações do inimigo.”

"Um chefe que está bem instruído em operações militares faz com que o inimigo se renda sem lutar, captura as cidades do inimigo sem atacá-las violentamente, e destrói o Estado do inimigo sem operações militares demoradas. "

“Quem explora a vantagem estratégica, dirige seus homens como se fossem troncos ou pedras. A natureza dos troncos ou pedras é permanecerem impassíveis se o solo é plano; ou rolarem se o solo está inclinando; se eles são quadrados, tendem a parar, se são redondos, tendem a rolar.”

“Para comandar um exército:
Um general tem que ter uma mente serena e insondável.
Ele deve comandar suas tropas de uma maneira imparcial e vertical.”


“Assim, você deverá comandar suas tropas com civilidade e humanidade, para manter seus homens unidos; e com disciplina marcial, para mantê-los na linha. Isso garantirá a lealdade, e você será invencível.”

"Para prever-se o resultado de uma guerra, devemos analisar e comparar as nossas próprias condições e as de nosso inimigo, baseados em cinco fatores.
Os cinco fatores são os seguintes: caminho, clima, terreno, comando e doutrina."

“Existem cinco fatores que permitem que se preveja qual dos oponentes sairá vencedor:
aquele que sabe quando deve ou quando não deve lutar;
aquele que sabe como adotar a arte militar apropriada de acordo com a superioridade ou inferioridade de suas forças frente ao inimigo;
aquele que sabe como manter seus superiores e subordinados unidos de acordo com suas propostas;
aquele que está bem preparado e enfrenta um inimigo desprevenido;
aquele que é um general sábio e capaz, cujo soberano não interfere.”

“O mérito supremo consiste em quebrar a resistência do inimigo sem luta”

"Na paz prepare-se para a guerra; na guerra prepare-se para a paz"


Bibliografias:
SUN-TZU; CLAVELL, James. Arte da guerra. 20. ed. - Rio de Janeiro: Record, 1998.

SUN-TZU. Arte da guerra. Disponível em: http://www.suntzu.hpg.ig.com.br/. Acesso em 05/06/09.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A história social


By Douguera

Não podemos falar de história social sem, incondicionalmente, falar dos annales que significou um marco da nova história em oposição às amarras e abordagens rankianas[1]. Um movimento de força significativa contra uma historia factual, propondo uma história problema inscrita em uma constante de interdisciplinaridade (mais sobre annales em: http://dougnahistoria.blogspot.com/2009/04/annales-by-douguera.html ). A influência dos annales foi de tal forma que levou a um quase desaparecimento das abordagens rankianas.


A mercê da historia social, em um artigo, Eric Hobsbawm, assinala que na primeira metade do século XX, décadas de 30 e 40, coexistiram três acepções de história social:

  • Uma historia social ligada às abordagens culturais: os costumes, as tradições nacionais, o individual e uma intrínseca relação com o pensamento conservador. Tudo com uma forte influência do modelo rankiano.
  • Uma história social do trabalho e dos movimentos socialistas: em aspecto político oposto, com uma abordagem do coletivo, do avanço das idéias sociais em reflexo do crescimento dos movimentos operários.
  • E uma história econômica social: destaco aqui imprescindível atuação dos annales, com uma ênfase na história econômica, prevalecimento dos fenômenos coletivos em oposição ao individual e uma ferrenha oposição à historiografia rankiana.

Nos anos de 1950 e 1960 a história social tendeu a uma constante de especialização, propondo uma nova postura historiográfica influenciada pelo viés do estruturalismo. Na década de 60 a tradição historiográfica angla saxônica iria sofrer a influência da escola dos annales.


Com tudo isso, a história social tomaria uma abordagem que buscava formular problemas históricos específicos quanto ao comportamento e as relações entre os diversos grupos sociais, sendo, logo perspicaz a atuação dos annales.


[1] faz referência a história desenvolvida por Leopold von Ranke: um dos maiores historiadores alemães do século XIX. Por intermédio da utilização das fontes ele deu ênfase na história narrativa (especialmente ligada a política internacional) e um comprometimento em mostrar o passado tal como realmente foi (wie es eigentlich gewesen ist).


Bibliografias:

CARDOSO, Ciro Flamarion S.; VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 508 p.

TORQUATO, Ronaldo. Diversos. Obra de arte em forma de pintura disponível em: http://www.ronaldotorquato.com/. Acesso em 02/06/09