domingo, 24 de maio de 2009

A Primeira Grande Guerra


By Douguera


A Primeira Guerra Mundial, disse François Furet[1], em nada se pareceu com a Segunda. Ninguém previa uma guerra provocada pelo afloramento de sentimentos nacionalista. O povo daquela época, assim como o de hoje, estava inserido na ótica do mercado: liberdade individual, a felicidade privada e o enriquecimento o que fez com que esses “homos economicus” estivessem espiritualmente despreparados para a guerra.


O homem econômico tem um papel central, mas não é o ator principal do conflito; o capital tem seu lugar marcado no Hall das desgraças da humanidade, todavia não deve ser o bode expiatório. A guerra só foi aceita em amplitude e plenitude por razões nacionalistas – a origem imediata parte das questões nacionalistas nos Bálcãs, perceptivo no sentimento de patriotismo que levou os homens ao fronte de batalha. Era, por assim dizer, o sentimento mais bem compartilhado naquele momento que se alastrava nação a nação. No caso da Alemanha em especial havia um forte amor pela “raça” que era expresso no movimento pan-germânico[2].


Podia si ver indo para o campo de batalha: a paixão da honra militar, o sentimento de nação e, a fé sega na ciência. A paixão da honra militar, sentida nas guerras revolucionárias, segredo do sucesso e das glórias dos exércitos de Napoleão, sobreviveu ao tempo; o sentimento de nação que vem dos séculos dos reis, anteriores até mesmo as democracias e a sociedade capitalista burguesa, também estava vivo; e a ciência, maior substituta da religião no século XIX, trouxe a justificativa para o pan-germanismo, retirando do evolucionismo darwinista a idéia de seleção natural e da espécie mais forte.


E entre o ataque de Sarajevo[3] e as decisões mobilizadoras, no mês de julho de 1914, era muito possível parar a engrenagem da máquina que levaria a matança. Ninguém o fez, todavia, então seu desencadeamento se deveu, em termos, digamos puramente técnico, pelo déficit da ação arbitrária diplomática. A guerra poderia também ser encurtada se um dos beligerantes tivesse a capacidade de se impor, no entanto quando a guerra foi parar nas lamacentas trincheiras há um prolongamento do embate, para lançar os dados de uma média de 30 mil mortes a cada 200 metros[4]. Assim podemos notar seu caráter interminável pelo infeliz equilíbrio das forças.


Em poucos meses de conflito: acabara o exército profissional e também não se via sua relação custo benefício, mesmo assim ela se arrastou por longos e sangrentos anos, inaugurando o ciclo das grandes tragédias que marcariam o século XX.


A guerra acaba e os ditos vencedores não têm uma concepção comum para a nova ordem mundial. E o Tratado de Versalhes[5], assinado em 28 de junho de 1919, fidelidigno as promessas feitas no calor do combate, tendeu a um caráter punitivo e vingativo em detrimento de ser um mediador das relações causa conseqüência, fazendo com que o terreno ficasse fértil para o totalitarismo, semente da Segunda Grande Guerra.


[1] François Furet. Historiador francês nascido em Paris, um dos principais estudiosos da Revolução Francesa

[2]O pan-germanismo foi um movimento político e sociocultural do século XIX, que
buscava a união de todos os povos germânicos.

[3]Sarajevo (por vezes Saraievo) é a capital e a maior cidade da Bósnia e Herzegovina. Palco do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do império Austro húngaro.

[4] FURET, François. O passado de uma ilusão. Pg. 62.

[5] O Tratado de Versalhes (1919) foi um tratado de paz assinado pelas potências européias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial.



Bibliografias:

Esqueletos de soldado alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial, encontrado em Violaines, na França. Disponível em http://www.lucianomarinho.com.br. acessado em 24/05/09.

FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.

HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914 - 1991. Tradução Marcos Santarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 20001.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

“De boas intenções, o inferno está cheio”

By Douguera

Pode-se se chamar o evento soviético, no integral da palavra, de uma Revolução? De uma forma concreta ela ocorreu, todavia se ela foi fidelidigna em esplendor a seus dogmas socialistas, isso não se pode dizer. Foi a Revolução que Marx preconizou? Claro que não. A que Lênin queria? Certamente que não. Por mais degenerada que essa esperança possa ter sido, a Revolução Socialista deu no que deu: no exemplo soviético. E mesmo tendo ido parar na mesa de autópsia dos cientistas, ela acabou por criar adeptos no ocidente.


Filhos legítimos da Guerra de 1914, que alguns países capitalistas persistem em não assumir a paternidade, o totalitarismo soviético vai herdar das trincheiras o hábito de violência, a simplicidade das paixões extremas e a submissão do indivíduo ao coletivo. Ele não dependeu do interesse social das massas para se manter no poder, embora tenha subido por elas, são os interesses das massas que vão depender dele. E o Stalinismo cumpre seu papel histórico sombrio de um regime ditatorial, terrorista ideocrático, ceifando vidas humanas. Ele não matou tanto quanto o totalitarismo alemão, matou mais. Em uma perspectiva mais analítica, o totalitarismo stalinista contribuiu para o desenvolvimento do totalitarismo de Hitler; em matéria de violência Stalin abre caminho para Hitler se justificar.



Assim como no totalitarismo Italiano e Alemão não foi diferente com o soviético, as paixões coletivas se encarnaram em personagens desgraçadamente excepcionais. Primeiro Lênin, formidavelmente culto aos moldes da Europa discípulo de Marx e depois Stalin, seguidor de Lênin.


Com a morte de Lênin houve um grande medo de que a Revolução fosse sepultada com seu líder, mas Stalin, a seus moldes e cheio de boas intenções, deu seguimento a Revolução segundo a qual a violência não passou de uma finalidade ética que identificou o militante revolucionário como um herói. Ou você era um revolucionário, ou um contra-revolucionário, simples assim.


O regime era algo inédito no século XX dentro das experiências concretas do repertório dos manuais de política e dos tipos de governo. Traçou traços absolutamente novos na Europa e no resto do mundo, levantou edifícios que pareciam inabaláveis, mas acabaram por ruir em si mesmo e ainda hoje estamos por pisar em cima de seus escombros.


Bibliografias


BARRAQUI, Douglas. A interpretação da realidade: metodologia da história. Disponível em: http://dougmahistoria.blogspot.com/2008/12/interpretao-da-realidade-metodologia-da.html. Acesso em 14/05/09.

FERRO, Marc. A Revolução Russa 1917. São Paulo, editora Perspectiva.

FURET, François. O passado de uma ilusão. São Paulo: Siciliano, 1995. 599p.

TRAGTENBERG, Mauricio; PINSKY, Jaime. A revolução russa. 4. Ed. - São Paulo.